domingo, 6 de novembro de 2011

O Voo da Borboleta - Cap I

NOTA DO AUTOR

Caros leitores. Amigos, desconhecidos, passantes, apaixonados ou não. Já há algum tempo venho refletindo sobre o que fazer do meu tempo, o que fazer para ocupar esse tempo que me sobra após um longo dia de estudo e trabalho, esse que não consigo ocupar com nada, nem mesmo com o sono. Mesmo cansado, minha mente não para, e eu fico horas pensando, pensando e pensando. Ultimamente tenho refletido bastante sobre uma história que acompanhei de perto, algo que mudou minha vida e meu modo de entender o Amor e todos seus mistérios. Então decidi dividi-la com vocês.
Acompanhei o desenrolar desta história o suficiente para contar-lhes com a maior exatidão possível. E prometo que narrá-la-ei desta forma. Sem esconder, omitir, nenhum detalhe desta linda história de Amor, a não ser o nome dos envolvidos, por motivos óbvios.

Leiam e reflitam, mas não me culpem caso após o fim, seu coração apertar e a saudade de alguém que existiu ou nunca existiu em sua vida domar seu coração. Faço minha parte ao narrá-la, você fará a sua após ler...

Publicarei um capitulo a cada dois dias, peço que me compreendam quanto a este período necessário, pois estou escrevendo e publicando um capitulo por vez. Obrigado. Boa Leitura!


 O Voo da Borboleta 

Capítulo 1

Os pés descalços, o corpo dolorido, a respiração ofegante. Pingos de suor misturados à água da chuva. A mente dele acelerada, sentimentos desconexos, amor, dor, solidão e abandono, essa ultima fez o coração se comprimir no peito e explodir em forma de pergunta – Por quê? – com as mãos cerradas e olhar fixo no céu como se aguardasse a resposta que há meses o angustia, mas só as estrelas o observam. Sem respostas, sem nada que possa aliviar o peso da dor, como ultima saída, ele se permite chorar. E as lágrimas que outrora teimavam em cair rolam agora fácil naquele rosto que até pouco tempo desconhecia aquela sensação. E ele chora e chora. (...)



***
Conheci o Alexandre ainda nos tempos de colégio, nunca fomos grandes amigos, mas nos respeitávamos. Alexandre, ou simplesmente Xandi para garotas, era o típico “pegador” do colégio. Namorava só as meninas mais bonitas, o que fazia caras como eu ter uma ponta de raiva dele. Mas ficava somente em uma “ponta” mesmo, porque não dava para ter raiva do cara, ele era simplesmente “muito legal”.



Nessa época eu só me ocupava em estudar física, química e história. Eu adorava história, mais por causa do professor do que pela matéria em si. Professores bons às vezes fazem com que aulas chatas se tornem momentos super esperados. E era exatamente assim com o professor Sergio. Eu viajava nas aulas dele.

Já o Alexandre nunca estava em sala, raro as ocasiões que ele estava presente, mas suas notas eram sempre razoáveis, o suficiente para ele ser aprovado. E até os professores passavam a mão na cabeça dele – Alexandre Augusto? – eles perguntavam na hora da chamada e logo uma das meninas respondia – Está treinando na quadra professor – e logo o professor comentava – esse rapaz é muito dedicado – e eu me perguntava – dedicado a quê? – Só se o colégio tiver a matéria sobre a arte de burlar todas as normas e ainda ser admirado. Mas no fundo eu tinha que reconhecer, ele era bom em quase tudo. Jogava vôlei, futsal, fazia teatro e dançava. Sempre muito elogiado por todos. E naquilo que ele não era tão bom assim, ele contava com a ajuda das meninas da sala. Elas sempre colocavam o nome dele em todos os trabalhos e ficavam felizes com um sorriso de agradecimento. E nas provas, bom, misteriosamente ele sempre se saia bem.

Um dia quando eu caminhava para ir ao colégio, esbarrei em um grupo de garotos de uma escola pública que ficava próximo ao ABM e um deles tentou começar uma briga – A escola que eu estudava tinha certa rixa com essa escola pública, e tudo era motivo de confusão. Até os jogos estaduais não poderiam mais acontecer entre as duas escolas – Um dos caras de imediato se virou para me bater. Um chute me atingiu, e foi só. Quando eu abaixei a cabeça para me defender esperando uma saraivada de golpes, o Alexandre veio não sei de onde e enfrentou os caras sozinho. Não sei quem venceu aquela luta, porque comecei a correr de tanto medo e acho que estou correndo até hoje. O certo é que depois disso passei a realmente respeitá-lo e entender o que as pessoas viam nele.

Terminamos o ensino médio e perdemos totalmente o contato. Alguma notícia chagava vez ou outra, mas não o via mais. Ficamos exatos quatro anos sem nos ver. E hoje vejo que não nos veríamos mais se não fosse o que aconteceu. Passei a entender que a vida tem vários caminhos diferentes, mas às vezes, somente às vezes, caminhos contrários se cruzam e pessoas totalmente diferentes se tornam amigas e podem se ajudar.

Eu lembro bem daquela noite. Sai do trabalho por volta das 18 horas, estava cansado e tudo que eu queria era um bom banho e dormir. Entrei no meu carro e peguei a saída mais rápida pela Avenida das Torres, tentando fugir do engarrafamento que naquela hora deveria estar insuportável na Avenida Efigênio Sales. E seria muito mais insuportável dentro do meu carro básico sem ar-condicionado que eu tinha até então.

Entrei no bairro onde morava, no Parque Dez, por volta das 18h35min, cruzei algumas ruas secundárias tentando fugir dos resquícios de engarrafamentos que ainda poderiam existir nas ruas principais. Passei pela Rua do Comercio, e vi um dos bares super recomendados para o happy hour funcionando a pleno vapor, e uma vontade súbita de tomar um chop me fez pensar – por que não? – ninguém me esperava em casa, eu poderia me dar o luxo de tomar um chop e quem sabe conhecer alguém interessante. A noite de sexta-feira poderia terminar melhor do que eu com a companhia da televisão assistindo um filme sozinho. Parei o carro, entrei no bar, encontrei uma mesa no segundo andar próximo ao parapeito, um ótimo lugar para analisar todas as mesas e quem sabe encontrar alguém.

Dei o primeiro gole no chop e olhei toda a extensão do bar, parando em cada mesa, para ver quem estava por ali. No terceiro gole eu o vi. Sentado em uma mesa do outro lado do bar, sozinho, de cabeça baixa olhando para o chop a sua frente. O reconheci de imediato, era ele sim, estava com a feição mais madura, de barba, talvez um pouco acima do peso, mas ainda com o mesmo porte dos tempos de colégio. Confesso que dei uma risada discreta de satisfação, afinal ele era normal. Como todos nós, ele engordou e envelheceu também. Passei um tempo pensando nisso até que o olhei novamente e lembrei-me daquela briga que ele me defendeu. Eu nunca tive coragem de agradecer. Fiquei com vergonha de ter fugido e mais vergonha ainda de nunca ter agradecido. Olhei para ele mais uma vez e foi quando eu notei que ele passara a manga da blusa nos olhos, como que enxugando lágrimas. Já era estranho vê-lo ali sozinho, logo ele que sempre foi cercado de amigos, pessoas que o admiravam e mulheres principalmente. Não combinava com o Alexandre que eu conheci estar sentado em um bar bebendo sozinho e principalmente, aparentemente lagrimando. Não combinava mesmo.

Foi quando percebi que algo estava realmente errado, o chop dele permanecia da mesma forma, intocado. E definitivamente ele estava lagrimando. 

Fiquei alguns minutos decidindo o que deveria fazer, ele não era meu amigo, não tínhamos intimidade, ele não desabafaria comigo, e certamente deve pensar que eu sou um covarde até hoje. Decidi pedir a conta e ir embora antes que aquela situação me obrigasse a passar vergonha novamente. A conta chegou, paguei, levantei-me e fui em direção a escada. Olhei para ele de relance e pensei que o Alexandre forte, confiante e feliz que eu conheci um dia em nada se parecia com aquele que estava ali sentado. Na verdade ele parecia mais comigo naquele momento. Meus passos mudaram de direção e como num impulso desses que você mal tem tempo de raciocinar sobre seus atos, eu me aproximei e falei com ele.

– Alexandre?! – A voz saiu meio seca, engasgada.
Ele levantou os olhos, demorou certo tempo me olhando, tentava se lembrar de onde me conhecia na certa.
– Lembra de mim? Do ABM? Estudamos juntos.
– Ah sim – Falou depois de alguns segundos – Como vai? Artur, certo?
– Certo. – O cara lembrava meu nome, na certa se lembrava da minha covardia também. O que eu estava fazendo?! – Eu estava indo embora, te vi ai e resolvi cumprimentar. E aí como vão as coisas?

O cara sozinho, com os olhos parecendo brasa e eu não tive coisa melhor para dizer. Poderia pelo menos não ter sido tão direto.

– Ta tudo bem. Tudo indo, na verdade. – Disse isso e olhou para rua que estava ao seu lado. Eu percebi naquele instante, que eu precisava dizer algo. Eu nunca havia me deparado com uma situação como aquela, nunca notara tão facilmente a tristeza nos olhos de alguém. Naquele momento não importava se ele era meu amigo ou não, se tínhamos intimidade ou não, ou se eu tinha vergonha. Eu precisava, tinha a obrigação de me colocar à disposição.

– Alexandre, você não ta com uma cara muito boa. Aconteceu algo? Sei lá. Posso te ajudar de alguma forma?

Ele continuou olhando para rua, um olhar perdido como se procurasse algo que nem ele mesmo deveria saber o que. Eu já me preparava para me despedir quando ele virou e olhou nos meus olhos.

– Se você tiver um tempo, acho que vai ser bom conversar – assenti com um gesto de cabeça e sentei-me a sua frente.


Senti nos seus olhos que ele precisava de ajuda. E dessa vez eu não fugiria.